Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
O programa-eleitoral de Bruno de Carvalho de 2013 contém várias promessas que não se chegaram a cumprir [especificarei tudo num outro artigo].
Um dos pontos dizia o seguinte - acerca do papel do treinador:
«Quanto à sua equipa de futebol profissional, o Clube tem que inverter completamente a lógica organizativa e a visão que tem da estrutura que dirige o futebol. É o clube que tem que criar uma estrutura que governe o futebol, FUTEBOL E ACADEMIA bem alicerçada, competente, com práticas estabelecidas. Quem chega – treinador, equipa técnica, jogadores ou outros elementos ligados ao futebol – é que deve integrar-se nessa estrutura, nesses métodos e filosofia de trabalho. Para que isso aconteça é necessário que essa estrutura seja absolutamente irrepreensível, responsável, solidária, leal e coloque sempre em primeiro lugar os superiores interesses do Clube.
O treinador deverá ser sempre escolhido tendo em atenção a sua adaptação à filosofia do clube, nomeadamente tendo apetência pelo aproveitamento da excelente capacidade que o Sporting Clube de Portugal apresenta na formação de novos jogadores (infelizmente, raramente aproveitados como deveriam ser), com um perfil formador, boa capacidade de comunicação e experiência.
O treinador será mais uma peça de uma máquina que tem que funcionar em pleno, uma peça importante evidentemente, mas nunca um ser genial e providencial a quem se pede que resolva todos os problemas da equipa e, por vezes, até do próprio Clube.»
Passados mais de 3 anos, temos connosco Jorge Jesus, que na mais recente entrevista ao Record afirmou:
"Quando cheguei ao Sporting, ao fim de um mês quis ir-me embora. Pensei: 'o que é isto?' Mas o presidente deu-me força e disse-me que as coisas iriam resolver-se"
Aqui diz o que pensa sobre os 2 anos de mandato de Bruno de Carvalho. Ou então foi simplesmente uma posição de força dentro do clube. Se ele diz que havia coisas que se iriam resolver quando só lá estava há 1 mês, é porque "estrutura" era algo que o Sporting não tinha.
"Mudei o Sporting todo por dentro, em termos de estrutura (...)"
A confirmação de que a estrutura do Sporting não era "nada".
" (...) e aí o presidente tem sido um elo de ligação fantástico porque não se nega a nada (...)
Ora aqui parece-me que afinal o presidente é que é se integrou na estrutura, ao contrário do treinador.
" (...) Ele também tem muita ambição"
Aqui em condições normais era escusado dizer isto, porque se há alguém dentro de uma estrutura que tem que ter ambição é o presidente.
Embora ambição tenhamos todos, desde o presidente, treinador, passando por nós sócios e adeptos. Sempre assim foi.
Como eu já tinha escrito num artigo de Maio passado, Bruno de Carvalho está nas mãos de Jorge Jesus.
E está nas mãos de Jorge Jesus porque o seu projecto para o futebol fracassou completamente. De facto, Bruno de Carvalho quis ser o centro de tudo e todos.
Contratou bons treinadores, é verdade. Treinadores esses que foram responsáveis pela retoma do futebol do Sporting.
Mas não soube coabitar com eles.
- Bruno de Carvalho desbaratou nas duas primeiras épocas muitos milhões em jovens estrangeiros de qualidade duvidosa\nula, sem dar cavaco a ninguém!
- Sentou-se no banco de suplentes para marcar uma posição dentro do plantel.
- Encostou jogadores sempre que se incompatibilizava com algum deles.
- Criticava de forma pública o desempenho da equipa.
- Inclusive, criticou de forma pública as opções do treinador, pelo facto deste não pôr a jogar os tais jovens estrangeiros de qualidade duvidosa (mais tarde também desprezados por Jorge Jesus).
- "Obrigou" até o treinador a meter jogadores da equipa B na Taça da Liga.
Este tipo de práticas dentro do próprio clube geraram desgaste, e houve um claro choque entre presidente e treinador [Marco Silva].
Bruno de Carvalho quis despedi-lo em Dezembro quando o Sporting ainda estava em todas as competições. Como sabia que tinha sido ele a criar o mau ambiente entre os dois, e não tinha a razão do seu lado, pediu ao José Eduardo para fazer o trabalho sujo. Mas os adeptos não acreditaram.
Os adeptos gostavam do treinador Marco Silva, e para o despedir somente por razões de ordem pessoal entre os dois, só o treinador bicampeão pelo Benfica o poderia salvar de não cair naquele momento da sua "cadeira de sonho" (ou emprego de sonho?)! Daí até pagar 5 milhões\ano ao treinador era inevitável do ponto de vista do presidente.
Felizmente para Bruno de Carvalho, Luís Filipe Vieira não pretendeu continuar com Jorge Jesus, tendo em vista um novo paradigma no projecto do futebol encarnado. As circunstancia do pai de Jorge Jesus estar doente, e do próprio Jesus e do seu pai ter uma ligação sentimental ao Sporting, também pesaram.
Dou até muito mais mérito a Bruno de Carvalho pelas contratações de Leonardo Jardim e Marco Silva, do que propriamente Jorge Jesus. Digamos que todas as circunstancias ditaram a ida de Jorge Jesus para Alvalade.
Tendo em conta tudo o que levou à ida de Jorge Jesus para Alvalade, o projecto de Bruno de Carvalho fracassou, e este passou a ficar refém do próprio treinador.
Imaginem que na época passada Jorge Jesus tinha batido com a porta após uma época sem títulos. Em que posição ficaria Bruno de Carvalho? Pois...
E quando um presidente está tão dependente da manutenção\sucesso do treinador, é a prova provada que há mais do que legitimidade para que nas próximas eleições se discuta o futuro do clube.
É que não é só a questão do futebol. Muito há para discutir sobre o futuro do clube e o que ele será em várias vertentes no médio\longo prazo. Por exemplo, ao nível da comunicação, a nível financeiro, da relação com os sócios, o que tem sido feito na formação, as promessas que não foram cumpridas, etc etc [ficará para outro artigo].
Quem sabe, se o próprio Jorge Jesus não precisará de um outro perfil de presidente dentro da sua própria estrutura, caso este pretenda cumprir os restantes 3 anos de contracto. E este, poderá ter um papel fundamental nas próximas eleições.
Todavia, um treinador ter o clube na mão, e o presidente estar refém do cargo (emprego) e do próprio treinador, nada tem de positivo. Pode dar azo a que os interesses e as ambições pessoais de ambos no imediato, choquem com os interesses do clube no médio\longo prazo.
PS: Nos meus arquivos lembrei-me de que tinha por aqui "perdido" o jornal i da semana em que Jorge Jesus veio para Alvalade e houve toda aquela polémica pela forma como Marco Silva foi despedido. O entrevistado curiosamente foi um antigo presidente do Sporting, o Drº José Roquette.
Acerca desse tema de então, as suas declarações foram curiosas - e hoje tudo começa a fazer sentido:
" Há formas e formas de se tratar o treinador e o que está a acontecer com Marco Silva vai tornar o futuro do clube mais difícil, até a substituição futura de Jorge Jesus, uma vez que este processo não foi tratado como devia e não garantiu lisura alguma."
Palavras sensatas. Claro que se ganharmos todos dirão que foi uma aposta ganha, e ai não haverá nada a dizer.
Mas, e se não ganharmos?
E vou até mais longe: até o processo eleitoral será mais uma vez uma farsa, porque Bruno de Carvalho apresentará como trunfo um treinador que de facto tem sido relevante, mas que faz de si uma peça-decorativa, somente para assinar papeis.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.