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Como a paciência já começa a ser pouca para tanta hipocrisia, hoje fico-me por este artigo que já tinha sido publicado no dia 18 de Junho.

 

Jornal do Sporting de 31 de Julho de 1924. Mensagem do reeleito presidente Júlio Araújo aos Sportinguistas

jornalsporting1923.tif

 " Circunstancias excepcionais que não vale apena citar fizeram com que mais uma vez fosse eleito presidente do nosso club.

Se a honra é grande (e como honra considero o facto) não menos grandes, são os trabalhos e responsabilidades que simultaneamente me foram conteridas. Ignoro ainda como será este anno de gerencia e só passado ele nós poderemos avaliar se a eleição foi ou não acertada.

Compromissos tomados e escritos pelos que me acompanham como Diretores e por mais duas dezenas de consocios nossos, indicam que muitos se trabalhou e que muito apoio teremos na realisão da obra de constante engrandecimento ao Sporting.

Seria errada política afirmar que conseguiremos repetir as façanhas de 1922/1923, Mas é admissivel garantir que trabalharemos tanto quanto fôr preciso para que tal se consiga.

Eu tenho ouvido de alguns dos que me felicitam, o comentario que « Então este anno ganha-se o campeonato, » Isto me dizem muitos, e convem desfazer as ilusões, Campeonatos, taças, classificações e tudo o mais não se conquista com o simples facto de pôr à cabeça da Direção o nome de Julio Araujo, de Salazar Carreira ou de qualquer outro de boa vontade.

Campeonatos, taças, classificações e tudo o mais só se consegue com orientação trabalho e boa vontade, assim é que está certo; e todos sabemos que em muitos casos, apezar da orientação, do trabalho e da boa vontade, se não obtem os resultados que seria para desejar

Estabeleceu a Direção um programa de trabalhos que, lido antes da eleição, a todos mostrou claramente como seguiremos, ali se apontaram claramente os males e quais julgámos ser os nossos remedios,

Ajudem-nos todos os que o Sporting pertencem e por elle se interessam e nós augmentaremos o numero de probabilidades de exito,

Eu sou como sou e não como outros desejam que eu seja. Eu sou Julio de Araujo com todos os meus defeitos, qualidades e ideias, Elegeram-me assim que ditassem restrições ao meu modo de ser e de ver, Aos que de mim muito esperam direi que também delles espero muito, aos que em mim não põem grandes esperanças eu recomendo que fiquem quietos e não criem dificuldades,

Para trabalhar produzindo, eu quero o methodo e ordem e disciplina; requeiro boa vontade moral e material; entendo ser necessário existir authoridade e mutua comprehensão de deveres; preconizo que os socios do Sporting devem agir coherentemente com os Diretores.

Assim iremos lá, assim poderemos fazer coisas,

Não estranhem os que leem de forma secca, franca e quasi ríspida e bem sacudida como atiro para o conhecimento publico as minhas maneiras de vêr,

Eú prefiro da maxima franqueza, mais a par do meu feitio, do que a diplomacia vesga que não é para empregar junto de gentes da mesma familia, Não sou presidente para crear amizades, Sei que nestes cargos arranjamos os nossos inimigos, mas como meu «desideratum» é fazer progredir o club, eu falo com preocupações pessoais nem receios de prejudicar popularidades a que não aspiro e que para o Sporting, de nada servem,

Julgo eu, que ninguem me atribuirá a pretensão de autocrata, ou pensará que, preciso para a minha pessoa da satisfação de ter authoridade, Esta basta-me possui-la onde e quando é preciso na minha vida profissional, No Sporting tudo são meios para atingir os fins, e é sob este aspeto que as coisas terão que ser encaradas,

Respeitador em absuluto dos feitios alheios, prompto em receber sugestões, conselhos e indicações desde o mais modesto e ignorado associado até ao de maior valia e renoma; acessivel a todas as reclamações e observações eu pretendo ser a par, de Director acatado, tão bom amigo de todos e do club como aquelles que o são,

É talvez demasiadamente pessoal este meu primeito artigo? É, Mas pretendo mostrar-me desde já tal qual como sou afim de que, feito o avizo, possa caminhar sem sombras de preocupação neste ponto.

A Direção defeniu a sua orientação e vai segui-la. É possivel que pelo caminho molestemos vaidades, ambições e doutorices, E possivel que contra nós se proteste e barafraste por algumas das medidas a tomar, Não importa. Emquanto uma Assembleia não estabelecer o contrário nada nos fará arrípiar no caminho que julgamos ser o bom."

 

 

Isto sim, era um presidente!

 

Tempos em que não se tentavam passar atestados de estupidez aos seus sócios!

Tempos em que não se vendiam ilusões de títulos e de milhões da treta!

Tempos em que se tinha os pés bem assentes no chão, e não havia chavões que caem bem perante muitos incautos, ao nível do "eles até tremem", "os nossos rivais têm que dar mais luta", ou "olhem bem para nós aqui no 1º lugar"!

Tempos em que um presidente tinha a sua vida própria, e não tirava um tostão do clube - pelo contrário, alguns metiam lá do seu próprio dinheiro!

Tempos em que seria impensável um presidente apelar aos seus associados para não o deixarem cair do poder, por questões pessoais do próprio presidente!

Tempos em que se tratavam os seus sócios por "família", não havendo "expurgas" nem processos!

Tempos em que um presidente tinha a capacidade de ouvir e estar receptivo a sugestões e conselhos.

Tempos em que um presidente assumia que um mandato podia correr bem, como podia correr mal, dando também a entender que de uma forma directa ou indirecta, os sócios fazem parte da vida do clube, para o bem e para o mal. Era como um todo.

 

Foi com pessoas desta honestidade e frontalidade, que se construiu um clube tão grande como os maiores da Europa.

 

Infelizmente, querem destruir o que levou muitas décadas a construir... Alguns não perceberão, e lá argumentarão que há 3 anos estavamos no 7º lugar. Oxalá não percebam quando for tarde demais...

 

 

Nota: A imagem pertence ao site Sporting Memória.

 

  

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12 comentários

De comentador desportivo a 10.09.2016 às 09:18

" Isto sim, era um presidente!"

Caro Amigo
Gente deste calibre, desta estirpe já não é fácil encontrar hoje.
Mas ainda há.

" Como a paciência já começa a ser pouca para tanta hipocrisia"

Isto é uma táctica deles, e é também uma táctica usada em debates.
O fazer-se de desentendido, o apontar o dedo a direcções anteriores e depois na mesma situação ou pior tentar demonstrar que não estão a perceber onde se quer chegar, é uma táctica, não deixa de ser de uma enorme hipocrisia, mas eles estão-se a marimbar para os valores, o objectivo ao fazerem-se de desentendidos, esquecidos é bloquear o debate e desviar o assunto.
Por outras palavras, eles não são completamente hipócritas, eles percebem onde as pessoas querem chegar ao confrontá-los, por isso é que usam este método.

Gostaria de enviar um pedido de desculpas ao Leão Zargo, por não lhe ter respondido, mas só hoje vi a suar resposta ao meu comentário.
Um abraço

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